A diferença entre um condutor consciente e alguém que meramente conduz de forma instintiva já foi introduzida no meu artigo anterior.
Seguindo a mesma linha é importante aprofundar, agora, as várias fases da máxima de condução: Ver, Pensar, Agir. Convido-vos, por isso, a refletir acerca de uma dessas fases e da forma como poderemos treinar e melhorar a nossa performance enquanto condutores conscientes.
Existem estratégias de aumento de atenção e de melhoria da exploração percetivo-visual relativamente simples e já amplamente estudadas desde 1952 pelo Sr. Harold Smith que vão com certeza ajudar.
O sistema “Smith” consiste em cinco diretrizes simples que permitem reduzir substancialmente o risco de acidente através de um aumento da capacidade de observar, antecipar e por consequência reagir ao que cada um de nós considerar como um fator de risco.
Quanto mais cedo se aperceber dos riscos à sua frente, mais preparado estará para os enquadrar nos vários níveis de risco e para os enfrentar. Isso irá também permitir colocar o veículo a circular à velocidade adequada ou mesmo parar de forma segura.
Para além das questões inerentes à tarefa direta da condução, devemos ter em consideração todos os factos ligados ao estado da via onde circulamos e às condições climatéricas nesse momento, bem como ao estado do nosso próprio veículo. Lembre-se que o seu veículo só está a 100% quando é novo.
Devemos, enquanto conduzimos, ter uma visão panorâmica de tudo o que nos rodeia. Assim, deverá recolher informação de forma rápida em todos os pontos do seu campo visual, incluindo todos os espelhos retrovisores e ângulos mortos provocados pelos mesmos, movimentando o olhar e a cabeça, procurando o perigo para que ele não se transforme numa surpresa.
Lembre-se da frase: “Se não vês o perigo…, o perigo és tu!”
Caso tenha cumprido os procedimentos anteriores, terá a capacidade de o fazer com mais probabilidades de sucesso e, assim, evitar o acidente.
Não se esqueça: para que possa calcular um ponto de fuga, em qualquer momento, deverá ter como hábito a manutenção de um intervalo de segurança equivalente a, no mínimo, três segundos do veículo precedente caso se encontre em andamento. Se estiver parado numa fila de trânsito, deve visualizar as rodas do veículo da frente no local em que estão em contacto com o pavimento.
É normal que nem todos os condutores estejam, em todos os momentos, totalmente focados na tarefa da condução, devendo por isso estar preparado para o pior.
Como alguém alguma vez afirmou: “A condução não é um monólogo, mas sim um diálogo…”.
Assim, a nossa preocupação deverá ser a de fazer questão de que todos saibam da nossa presença e das nossas intenções e esperar que todos os restantes utentes da via o façam de igual modo.
Se desconfiar que o seu interlocutor rodoviário não o está a ver, procure olhar para os seus olhos. Caso considere que não o fez com sucesso, procure chamar a sua atenção de forma ponderada, buzinando ou fazendo sinais de luzes.
Se ainda assim lhe parece que existe risco, reduza a velocidade, alargue a trajetória e fique preparado para atuar.
Tudo na nossa vida resulta de hábitos e a segurança na estrada é o resultado da implementação prática de atitudes e comportamentos adequados e simples que são há muitos anos alvo de estudo.
Resta-nos ter o bom senso de refletir e aplicar estas máximas para podermos chegar ao nosso destino diariamente. É também importante transmitir esta mensagem às gerações futuras e, assim, ajudar a criar uma sociedade mais segura. Formar é uma tarefa que cabe a todos nós.
Formador e consultor na gestão da eficiência e segurança de condutores em frotas automóveis, é gerente da QI Formação e também formador especializado em condução de veículos pesados.